Gosto de gastar os
últimos cartuchos das férias nos feriados de Dezembro e aproveitar para uma
escapadela europeia. Assim, após um intenso alinhamento de planetas, dou por mim a aterrar na
capital mais pequena da Europa, Dublin, que por acaso até nem estava no topo da lista
de prioridades.
Simplesmente porque sempre achei que visitaria Dublin no âmbito de uma roadtrip que também incluísse, o que imagino ser, um dos mais maravilhosos countrysides da Europa e não apenas numa escapadela de cidade.
Mas como se costuma dizer, isto foi o início de
uma bela amizade.
Dublin é uma cidade fantástica e voltei de lá totalmente rendida. Deixo aqui o que mais me encantou, o que mais gostei de
descobrir, o meu “best of Dublin”:
Guinness
Beber uma Guinness. Esta é provavelmente a primeira
coisa que a maior parte dos visitantes faz assim que chega à cidade. Não fomos
excepção.
No meu caso, foi um gosto que fui
adquirindo. Aquela cor escura, o leve sabor a café e a espuma assim tão cremosa simplesmente não eram parâmetros
que o meu cérebro associasse ao pequeno prazer de beber uma cerveja.
Mas a Guinness
não é uma cerveja qualquer e o simples acto de servir uma pint é algo levado muito a sério na Irlanda.
Absolutamente imperdível é a visita à Guinness
Storehouse, na mítica St James’s Gate Brewery desde 1759.
Numa fenomenal
exposição multimédia distribuída por vários andares de um edifício inteiro, aprendemos
sobre a incrível história de sucesso da marca, sobre a técnica do “surge and settle” que é característica
desta cerveja, que com muita qualidade, mística e associada a poderosas
campanhas de marketing, transformaram a Guinness numa love brand irlandesa.
“A” Biblioteca
Outro local imperdível de Dublin, para quem
vem pela primeira vez, é a Trinity College fundada em 1592 pela
Rainha Elisabeth I. Nesta universidade estudaram, entre outros, Bram
Stoker, Oscar Wilde e Samuel Beckett.
Gostei de sentir aquele espírito
académico centenário, mas o meu local preferido foi a Long Room da biblioteca
antiga, uma das bibliotecas mais bonitas que já vi, com um sem número de
prateleiras de madeira que parecem não ter fim, onde o cheiro dos
livros antigos inunda o ar.
Aqui também podemos ver o Book of Kells, um dos
maiores tesouros da Irlanda, um antigo manuscrito dos evangelhos cheio de
iluminuras ainda muito bem conservadas, que os monges Celtas decoraram no sec
IX, na ilha escocesa de Iona, e depois enterraram no chão para o protegerem das incursões
Vikings.
Dubh Linn
Dublin tem um castelo mas não é propriamente um
castelo tradicional com muralha defensiva, torre de menagem
e ponte levadiça. É mais como um palácio do séc XVIII cujo único elemento
sobrevivente da época medieval é um torreão solitário, a Record Tower.
Junto ao castelo estão os jardins de Dubh
Linn (Lago Escuro) onde se situava o lago que deu o nome à cidade e é um local
bem agradável para um passeio num dia cinzento.
Os Pubs
Seria muito difícil passar por Dublin e não
entrar em nenhum pub, ou vários.
Dublin tem mais de mil pubs de todos
os tipos mas, quanto a mim, os melhores são aqueles mais tradicionais com decoração em
madeira e sofás de pele antiga. Alguns são verdadeiras instituições com
centenas de anos, onde as pessoas vêm descontrair depois de um dia de trabalho
e onde somos sempre recebidos com sorrisos.
Em muitos pubs
é possível comer, para além de beber, e quase todos têm música ao vivo, uma
das melhores coisas de visitar Dublin.
Deixo aqui os pubs que mais gostei:
Dublin Doors
Ao longo do séc XVIII Dublin tornou-se uma das cidades
mais prósperas do império britânico. Entre os reinados dos reis George I e
George IV, que se designou por período Georgiano, a cidade começou a crescer
para fora da malha medieval e adoptou as directrizes arquitectónicas simples e elegantes que chegavam de Londres.
É verdade que nesta traça simples e elegante, os edifícios pecam um pouco por falta de originalidade, por isso para romper com as
estritas regras, os moradores tomaram a iniciativa de imprimir o seu cunho pessoal pintando
as portas em tons garridos.
E eu podia ter passado um dia inteiro só “à
caça” das portas de Dublin.
Os Museus grátis
Muitos dos museus de Dublin são grátis,
principalmente as galerias que pertecem ao National Museum of Ireland. Visitámos
o de Arqueologia e o de História Natural.
No museu de Arqueologia, que fica dentro de um
edifício espectacular, somos transportados para o tempo dos Vikings e podemos
ver vários exemplos de arte Celta e Medieval.
O museu de História Natural também parece que
parou no séc XIX quando foi inaugurado pelo explorador escocês David
Livingstone. Podemos explorar a colecção vastíssima de animais embalsamados mas
o que mais gostei foi do ambiente victoriano meio empoeirado que deve ser bem
representativo desses tempos.
Os Cafés
Com tantas pints de Guinness a serem servidas
por minuto na cidade, o culto do café não é a primeira coisa que se associa a
Dublin, mas é incrível a quantidade de cafézinhos que existem na cidade cada um
mais expert em blends do que o outro e todos muitíssimo acolhedores.
Não existem grandes esplanadas mas estes cafés
tiram partido das montras e janelas típicas da arquitectura local, de modo que existe sempre um balcão virado para a rua para nos sentarmos e ficarmos a ver
passar.
Howth
Howth é uma vila piscatória nos subúrbios de
Dublin onde chegamos depois de uma curta viagem no comboio DART.
O slogan de
uma das peixarias do porto de Howth é “if
it swims, we have it”. Isso caracteriza muito bem a diversidade marinha existente nestes
mares, uma das grandes atracções deste local, com inúmeros restaurantes de peixe e marisco e toda a actividade portuária que nos é tão querida
e familiar.
Adorei ficar sentada no pontão a observar a ida
e vinda de barcos, os pescadores na sua lida, as gaivotas em vôo rasante e os leões marinhos que se iam aproximando dos barcos em busca de algum peixinho grátis.
As Ugly
Christmas Sweaters (bónus sazonal)
Eu lembro-me de usar umas camisolas horrorosas mas
ultra-quentinhas nos meus invernos nos anos 80. Às vezes ainda as uso no Natal
porque a casa é fria e são praticamente as únicas peças de roupa da minha
infância que a minha mãe foi proibida de dar.
Pois, volvidas 3 décadas, verifiquei que essas camisolas são
um fenómeno de popularidade na Irlanda durante a época
natalícia. As ruas de Dublin no início de Dezembro estavam totalmente “infestadas”
de Ugly Christmas Sweaters e vimos
grupos inteiros de todo o tipo de pessoas e de todas as idades a envergar
orgulhosamente as suas camisolas com renas dançantes, árvores de natal a piscar
e pais natais entusiasmados.
Dublin
Descobri uma cidade despretensiosa,
modesta, simples e natural que não padece de sentimentos de grandeza nem tem
nada a provar. Isso foi uma das coisas que mais gostei na cidade. Ficámos apaixonados pela simpatia dos irlandeses, como nos
acolheram com boa disposição e nos fizeram sentir em casa.
Agora, depois de voltar, dou por mim a re-descobrir os irish pubs de Lisboa e a espreitar as prateleiras das cervejas internacionais nos supermercados à procura de uma Guinness original.
“Louis, I think this is the beginning of a beautiful friendship.”
Rick Blaine, Casablanca