9 de maio de 2017

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O ventonocabelo mudou de morada.
Os novos artigos (e os velhos também) poderão ser seguidos

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X.

17 de fevereiro de 2017

[best of] dublin

Gosto de gastar os últimos cartuchos das férias nos feriados de Dezembro e aproveitar para uma escapadela europeia. Assim, após um intenso alinhamento de planetas, dou por mim a aterrar na capital mais pequena da Europa, Dublin, que por acaso até nem estava no topo da lista de prioridades. 
Simplesmente porque sempre achei que visitaria Dublin no âmbito de uma roadtrip que também incluísse, o que imagino ser, um dos mais maravilhosos countrysides da Europa e não apenas numa escapadela de cidade.

Mas como se costuma dizer, isto foi o início de uma bela amizade.
Dublin é uma cidade fantástica e voltei de lá totalmente rendida. Deixo aqui o que mais me encantou, o que mais gostei de descobrir, o meu “best of Dublin”:


Guinness

Beber uma Guinness. Esta é provavelmente a primeira coisa que a maior parte dos visitantes faz assim que chega à cidade. Não fomos excepção.
No meu caso, foi um gosto que fui adquirindo. Aquela cor escura, o leve sabor a café e a espuma assim tão cremosa simplesmente não eram parâmetros que o meu cérebro associasse ao pequeno prazer de beber uma cerveja. 
Mas a Guinness não é uma cerveja qualquer e o simples acto de servir uma pint é algo levado muito a sério na Irlanda.

Absolutamente imperdível é a visita à Guinness Storehouse, na mítica St James’s Gate Brewery desde 1759. 
Numa fenomenal exposição multimédia distribuída por vários andares de um edifício inteiro, aprendemos sobre a incrível história de sucesso da marca, sobre a técnica do “surge and settle” que é característica desta cerveja, que com muita qualidade, mística e associada a poderosas campanhas de marketing, transformaram a Guinness numa love brand irlandesa.







“A” Biblioteca

Outro local imperdível de Dublin, para quem vem pela primeira vez, é a Trinity College fundada em 1592 pela Rainha Elisabeth I. Nesta universidade estudaram, entre outros, Bram Stoker, Oscar Wilde e Samuel Beckett.
Gostei de sentir aquele espírito académico centenário, mas o meu local preferido foi a Long Room da biblioteca antiga, uma das bibliotecas mais bonitas que já vi, com um sem número de prateleiras de madeira que parecem não ter fim, onde o cheiro dos livros antigos inunda o ar.

Aqui também podemos ver o Book of Kells, um dos maiores tesouros da Irlanda, um antigo manuscrito dos evangelhos cheio de iluminuras ainda muito bem conservadas, que os monges Celtas decoraram no sec IX, na ilha escocesa de Iona, e depois enterraram no chão para o protegerem das incursões Vikings.  






Dubh Linn

Dublin tem um castelo mas não é propriamente um castelo tradicional com muralha defensiva, torre de menagem e ponte levadiça. É mais como um palácio do séc XVIII cujo único elemento sobrevivente da época medieval é um torreão solitário, a Record Tower.

Junto ao castelo estão os jardins de Dubh Linn (Lago Escuro) onde se situava o lago que deu o nome à cidade e é um local bem agradável para um passeio num dia cinzento.



Os Pubs

Seria muito difícil passar por Dublin e não entrar em nenhum pub, ou vários. Dublin tem mais de mil pubs de todos os tipos mas, quanto a mim, os melhores são aqueles mais tradicionais com decoração em madeira e sofás de pele antiga. Alguns são verdadeiras instituições com centenas de anos, onde as pessoas vêm descontrair depois de um dia de trabalho e onde somos sempre recebidos com sorrisos. 

Em muitos pubs é possível comer, para além de beber, e quase todos têm música ao vivo, uma das melhores coisas de visitar Dublin.



Deixo aqui os pubs que mais gostei:


Dublin Doors

Ao longo do séc XVIII Dublin tornou-se uma das cidades mais prósperas do império britânico. Entre os reinados dos reis George I e George IV, que se designou por período Georgiano, a cidade começou a crescer para fora da malha medieval e adoptou as directrizes arquitectónicas simples e elegantes que chegavam de Londres. 

É verdade que nesta traça simples e elegante, os edifícios pecam um pouco por falta de originalidade, por isso para romper com as estritas regras, os moradores tomaram a iniciativa de imprimir o seu cunho pessoal pintando as portas em tons garridos.

E eu podia ter passado um dia inteiro só “à caça” das portas de Dublin.









Os Museus grátis

Muitos dos museus de Dublin são grátis, principalmente as galerias que pertecem ao National Museum of Ireland. Visitámos o de Arqueologia e o de História Natural.

No museu de Arqueologia, que fica dentro de um edifício espectacular, somos transportados para o tempo dos Vikings e podemos ver vários exemplos de arte Celta e Medieval.
O museu de História Natural também parece que parou no séc XIX quando foi inaugurado pelo explorador escocês David Livingstone. Podemos explorar a colecção vastíssima de animais embalsamados mas o que mais gostei foi do ambiente victoriano meio empoeirado que deve ser bem representativo desses tempos.




Os Cafés

Com tantas pints de Guinness a serem servidas por minuto na cidade, o culto do café não é a primeira coisa que se associa a Dublin, mas é incrível a quantidade de cafézinhos que existem na cidade cada um mais expert em blends do que o outro e todos muitíssimo acolhedores.

Não existem grandes esplanadas mas estes cafés tiram partido das montras e janelas típicas da arquitectura local, de modo que existe sempre um balcão virado para a rua para nos sentarmos e ficarmos a ver passar.




Howth

Howth é uma vila piscatória nos subúrbios de Dublin onde chegamos depois de uma curta viagem no comboio DART.
O slogan de uma das peixarias do porto de Howth é “if it swims, we have it”. Isso caracteriza muito bem a diversidade marinha existente nestes mares, uma das grandes atracções deste local, com inúmeros restaurantes de peixe e marisco e toda a actividade portuária que nos é tão querida e familiar.

Adorei ficar sentada no pontão a observar a ida e vinda de barcos, os pescadores na sua lida, as gaivotas em vôo rasante e os leões marinhos que se iam aproximando dos barcos em busca de algum peixinho grátis.

















As Ugly Christmas Sweaters (bónus sazonal)

Eu lembro-me de usar umas camisolas horrorosas mas ultra-quentinhas nos meus invernos nos anos 80. Às vezes ainda as uso no Natal porque a casa é fria e são praticamente as únicas peças de roupa da minha infância que a minha mãe foi proibida de dar.  

Pois, volvidas 3 décadas, verifiquei que essas camisolas são um fenómeno de popularidade na Irlanda durante a época natalícia. As ruas de Dublin no início de Dezembro estavam totalmente “infestadas” de Ugly Christmas Sweaters e vimos grupos inteiros de todo o tipo de pessoas e de todas as idades a envergar orgulhosamente as suas camisolas com renas dançantes, árvores de natal a piscar e pais natais entusiasmados.



Dublin

Descobri uma cidade despretensiosa, modesta, simples e natural que não padece de sentimentos de grandeza nem tem nada a provar. Isso foi uma das coisas que mais gostei na cidade. Ficámos apaixonados pela simpatia dos irlandeses, como nos acolheram com boa disposição e nos fizeram sentir em casa.




Agora, depois de voltar, dou por mim a re-descobrir os irish pubs de Lisboa e a espreitar as prateleiras das cervejas internacionais nos supermercados à procura de uma Guinness original.

“Louis, I think this is the beginning of a beautiful friendship.”

Rick Blaine, Casablanca

30 de janeiro de 2017

uzès [e pont du gard]


Descobri Uzès na internet, enquanto planeava esta viagem, e foi amor à primeira vista, tinha mesmo que passar por aqui.

A sua localização na região de Gard, sensivelmente a meio caminho entre a Côte d’Azur e Lyon, onde apanharíamos o avião de regresso a Portugal no dia seguinte, fez desta vila a pit stop perfeita.

Estamos numa região campestre onde as vinhas encontram as oliveiras debaixo de um céu azul mediterrânico e onde se avistam vilas medievais sobre colinas.

Uzès é uma destas vilas, das mais bem preservadas do Sul da França que ainda não figura em todos os guias de viagem como outras vilas mais conhecidas do Luberon provençal e então, como costumam dizer, ainda mantém um certo charme de autenticidade do que é tipicamente muito "francês".








A luz da manhã em Uzès é perfeita e dourada. 
Esta luz e o aroma da lavanda que vemos pendurada em raminhos, vão-nos conduzindo pelas ruas antigas e estreitas, pelas casas de pedra pálida e desgastada com janelas de madeira pintadas em tom pastel, até chegarmos à Place aux Herbes onde todos os sábados decorre um mercado de artesãos e agricultores. 

Adoro um bom mercado e não há como negá-lo, os franceses são peritos nisso.

Vou-me demorando por ali, fotografando e observando cada pormenor. No fim tive que ser praticamente arrastada de Uzès, quando só me apetecia comprar as melhores iguarias e ir de baguete debaixo do braço, preparar o almoço. 








Mas antes do avião para Lisboa, ainda queríamos passar noutro sítio.

Uzès foi fundada neste local por se situar junto a uma importante nascente de água que fez com que os romanos no séc. I tivessem tido a iniciativa de construir, a poucos quilómetros, um majestoso aqueduto para fornecer água à cidade de Nímes, que se tornou numa grande cidade romana do Sul de França. 

Este aqueduto é a Pont du Gard. E eu queria mesmo -muito- visitá-la.



A excepcional Pont du Gard, situada a 20 km de Nîmes, fazia parte de um sistema de irrigação, abastecimento e transporte de água da região de Uzès para Nîmes.

É enorme! Tem quase 50 m de altura, 275 m de comprimento, 53 arcos distribuídos em 3 “andares” que parecem ter sido desenhados com transferidor e incontáveis blocos que foram talhados à mão e transportados a partir de pedreiras próximas. A altura deste aqueduto espectacular só varia cerca de 2,5 cm em todo o seu comprimento que é a diferença de cota suficiente para manter a água a fluir. Mais uma demonstração da incrível engenharia da Antiguidade.

Depois do fim do império romano foi abandonada e séculos mais tarde passou a ser usada como local de portagem para atravessar o rio, tendo até sido construída uma ponte gémea no séc. XVIII, que se vê no local, para permitir o tráfego mais facilmente.

Hoje, é uma das atracções turísticas mais acarinhadas de França.
E eu adorei visitá-la. 


Estes romanos...