13 de julho de 2015

leva-me às levadas

Desde sempre que a Madeira é considerada um paraíso das caminhadas.
Sejam caminhadas em levadas ou cumeadas, andar a pé é uma das melhores maneiras de aceder ao coração da ilha e o boom de natureza que podemos testemunhar faz desta uma das mais exuberantes experiências madeirenses.

As levadas são canais de irrigação, construídos e desenvolvidos desde o séc. XVI, para transportar e distribuir a água das chuvas e das regiões mais húmidas do Norte da ilha para as plantações de bananeiras, vinhas, hortas e pomares das zonas mais secas e ensolaradas a Sul.

Percorrer as mundialmente conhecidas levadas da Madeira é uma das actividades mais características da ilha, quer para turistas, quer para habitantes locais.

O mais difícil é escolher, porque a Madeira tem algo como 200 levadas, perfazendo um total de aproximadamente 3000 kms.
Ora, essa tarefa, para uma first timer com 5 dias na ilha e um deles já reservado para a caminhada de pico a pico (isso tinha mesmo que ser), não se afigurava nada fácil. 

Para ajudar a decidir, o melhor é pedir dicas a locals, que provavelmente já percorreram várias levadas, várias vezes, com chuva ou sol, de manhã ou de tarde e podem dar uma perspectiva do que esperar. Este site também pode ajudar.

Acabei por escolher a consensual Levada das 25 Fontes, uma das levadas mais populares da Madeira, perfeita para first timers, localizada no vale encantado do Rabaçal.


O melhor de caminhar no Rabaçal é que é uma das zonas mais diversificadas e panorâmicas da ilha. Encontramos várias lagoas e cascatas, percorremos duas levadas ultra-fotogénicas, e tudo no meio da mística floresta Laurissilva da Madeira, classificada como Património Mundial Natural da UNESCO.

O pior de caminhar no Rabaçal é que, como é tão popular, é também muito pouco provável fazê-lo sozinho. Há sempre muita gente na Levada das 25 Fontes, principalmente ao fim de semana.

Mas, como se sabe, também há sempre modos de contornar isso, se estivemos dispostos a caminhar a extra mile. E neste caso, a extra mile chama-se Lagoa do Vento. 
Foi aí que começamos.

* * *

Para chegar à Lagoa do Vento, descemos desde a estrada quase até ao Rabaçal onde um levadeiro nos indica uma vereda não sinalizada à direita. O caminho para a Lagoa do Vento não está assinalado porque é considerado perigoso, no entanto o único perigo que verifiquei existir foi o de tropeçar nas raízes das árvores ou bater com a cabeça em alguma delas pois estão em posições inesperadamente cinematográficas.

Em aproximadamente 1h é possível chegar à Lagoa do Vento, que se encontra no topo da cascata do Risco. É um local mágico e inspirador onde impera o silêncio só pertubado pelo som da água.





* * *

De volta às casas do Rabaçal, saem 2 trilhos perfeitamente assinalados, que se separam seguindo duas levadas paralelas localizadas a diferentes cotas: a levada das 25 Fontes e a levada do Risco.

A 1000m de altitude, o trilho que acompanha a levada do Risco, conduz o caminhante até uma imponente queda de água que cai da Lagoa do Vento em direcção ao Poço do Risco, a mais de 100 metros abaixo do nível da vereda.


* * *

Saindo do Rabaçal em direcção às 25 fontes, no caminho apreciamos a perfeita simbiose entre construção e natureza e a sensação maravilhosa de pertencer à paisagem. Ao longo do percurso é possível apreciar espécies endémicas da flora e fauna da região.

A construção da levada das 25 Fontes começou em 1835 e em 1855 transportou água pela primeira vez, do Norte para o Sul da ilha, permitindo o aproveitamento agrícola de muitos terrenos do Concelho da Calheta, na altura ainda incultiváveis.

Ao chegar à Lagoa das 25 Fontes o cenário é encantador. Conta a lenda que quem aqui mergulhar não voltará à superfície.
Por isso, pelo sim pelo não, guardei o mergulho para mais tarde. 



   


   

Deixamos o vale do Rabaçal e os seus cenários tolkienianos atravessando o túnel de 800m em direcção à Calheta.


Esta não é uma caminhada circular. Apesar dos principais pontos de interesse estarem relativamente próximos uns dos outros em planta, estão a cotas diferentes. Antes de se iniciar um novo percurso é sempre necessário voltar ao ponto de partida (as casas do Rabaçal). São trilhos fáceis mas no final do dia sente-se o acumular de kms nas pernas.

E vale tão a pena.

Dados (aproximados): distância: 14km | duração: 5h | desnível total: 400m(up/down)  

2 comentários:

Tânia Barreira disse...

Olá Vento no Cabelo,
Não sendo assim um percurso circular, como fizeram com as deslocações? tinha um serviço de transporte que a deixou no inicio do trilho, como fez? Desculpe, mas é uma questão que me preocupa, se existem transportes que possamos usar no local, ou a única hipótese é alugar um carro..

Vento no Cabelo disse...

Olá Tânia!

No geral, na ilha da Madeira, se quiser ter alguma independência o melhor é alugar um carro, pois há locais onde não se chega de transportes públicos.

No entanto, existem muitas agências e hotéis que organizam passeios. Muitas mesmo. E incluem o transfer para o ponto de partida e chegada da caminhada (se forem diferentes).

Especificamente, as caminhadas no Rabaçal (Lagoa do Vento, Risco e 25 Fontes) são, na prática, 3 caminhadas independentes que se fazem a partir de um ponto comum, perto do qual é possível deixar o carro.

Boas caminhadas!
X*