Deixamos Puerto Natales de autocarro numa longa
viagem que nos levará até à cidade argentina de Ushuaia. Para lá chegar,
atravessamos a província chilena denominada “de Magallanes y de la Antartida
Chilena”.
Deixamos os Andes para trás e por algumas horas voltamos à árida
estepe patagónica.
Não posso deixar de me orgulhar quando percebo
que muitas coisas no Chile, no outro lado do mundo, herdaram o nome de Fernão
de Magalhães, provavelmente o maior explorador de todos os tempos, um português.
Esta região, várias espécies de animais e claro, o Estreito que o
nosso navegador atravessou em 1520,
herdaram o seu nome.
Na altura, o talento e a coragem de partir à descoberta
eram portugueses mas o capital que financiou a sua expedição foi, como se sabe,
espanhol.
Portugal foi forreta, mas também havia toda uma
outra questão “burocrática” relacionada com o Tratado de Tordesilhas, assinado
em 1494, que dividia as terras "descobertas e por descobrir" entre
Portugal e Espanha. Portugal não podia simplesmente navegar para onde quisesse
em direcção ao infinito. A descoberta de novas terras no mundo, ainda pouco conhecido, para lá
das 370 léguas a Oeste de Cabo Verde já não estava na ordem de trabalhos de
Portugal, agora pertencia a Espanha.
Assim, Magalhães pôs-se ao serviço de
Espanha com o objectivo de chegar às Molucas, navegando para Ocidente, por
mares não reservados aos portugueses e tentando provar que as tão disputadas Ilhas
das Especiarias, talvez estivessem na metade do mundo espanhola.
Depois da travessia do Atlântico e de várias tentativas
em vários rios e baías sul americanas, Magalhães navega o estreito entre a
terra de gigantes a quem chamou de patagões, a Norte, e a terra onde se avistavam inúmeras fogueiras indígenas, a Sul.
Magalhães baptiza assim a Patagónia e a Terra do
Fogo, mas não se fica por aqui.
Ao chegar a um novo oceano, calmo e sereno, quando
comparado à agitação e ventania suportadas ao atravessar o estreito,
Magalhães chama-lhe Pacífico.
Notei que há um certo orgulho chileno no nome Magalhães. Em Punta Arenas ergueram-lhe uma estátua num monumento e construíram uma réplica da Nau Victoria, a única da sua expedição que regressou a Espanha (a primeira nau a circum-navegar a
Terra).
Nas Filipinas, que foram descobertas pela
expedição de Magalhães e onde ele acabaria por morrer depois de atravessar o
Pacífico e provar que a circum-navegação à Terra era possível, também
encontrámos muitas referências e monumentos ao navegador.
Mas eu, confesso que só depois de voltar desta viagem reparei que a estátua que está no centro da Praça do Chile, em Lisboa, é o Fernão de Magalhães.
Mais tarde, após alguma pesquisa, aprendi com surpresa, que é uma estátua gémea da que está em Punta Arenas, que é do mesmo escultor e que foi oferecida pelo governo do Chile a Portugal.
Gostava que o gabássemos assim no nosso país.
Mais tarde, após alguma pesquisa, aprendi com surpresa, que é uma estátua gémea da que está em Punta Arenas, que é do mesmo escultor e que foi oferecida pelo governo do Chile a Portugal.
Gostava que o gabássemos assim no nosso país.
A ele e aos outros que, como ele, partiram em direcção ao desconhecido.
Não há vento quando atravessamos o Estreito de
Magalhães.
É uma travessia calma num ferry pouco dado a poesias.
Mas há pelo
menos 2 portugueses a navegar as mesmas águas que um tal Fernão de Magalhães, português,
navegou antes de todos os outros.
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