Sou uma pinga-amor ferroviária.
O comboio é o meu meio de transporte preferido, no dia-a-dia e nas
férias. Foram os interrails que me despertaram o gosto de viajar e não me
assusto com a ideia de passar 30h dentro de um comboio, faz parte da
experiência.
Emocionei-me com o fecho da Linha do Tua e gosto de parar nos apeadeiros
abandonados de linhas desactivadas há décadas, tirar fotografias e ficar por
ali a imaginar como seria quando os comboios passavam por lá.
Do mesmo modo, também vibrei com a abertura da guest house Trainspot na
estação de Marvão e com a ideia de um Plano Nacional de Ecopistas criado pela
REFER (hoje IP), cujo objectivo é a requalificação e reutilização das linhas e
canais ferroviários desactivados de Portugal. Genial, não é?
Isto tudo para dizer que andava, há muito tempo, à procura de uma
oportunidade para ir percorrer uma destas ecopistas.
A maior ecopista portuguesa é a Ecopista do Dão e assenta nos 49 km da antiga
Linha do Dão que liga Viseu a Santa Comba Dão.
A Linha do Dão foi a primeira ligação ferroviária à cidade de Viseu e
funcionou durante praticamente 100 anos. Encerrou em 1988 e depois de alguns
anos do tal abandono sofreu uma metamorfose e é hoje uma das ecopistas mais bem
cotadas da Europa dinamizando a região e oferecendo uma nova vida à infra-estrutura.
O melhor de percorrer esta ecopista é que é acessível a todos. São quase
50 km mas o desnível nunca é muito acentuado (característica obrigatória nos
projectos de traçado ferroviário), existem muitas sombras e vários pontos onde
é possível parar para descansar ou beber um refresco pois os apeadeiros também
foram reabilitados e alguns hoje são cafés e esplanadas, existem locais onde é
possível alugar bicicletas junto à ecopista, e quem não quiser fazer ida e
volta facilmente conseguirá um transfer
do fim para o início do percurso ou vice-versa.
Pelo caminho passamos por vários pontos de interesse: para além dos
apeadeiros encontramos antigas pontes ferroviárias e túneis. Apercebemo-nos que
mudamos de concelho pois o pavimento está pintado de cor diferente: Viseu é vermelho, Tondela é verde e Santa Comba Dão é azul.
Depois há a Natureza e a paisagem magnífica: em Viseu é mais campestre atravessando
vinhas, campos agrícolas e pequenas aldeias, em Tondela a floresta toma conta
de nós e somos envolvidos pelo aroma dos eucaliptos e pinheiros, em Santa Comba Dão
grande parte do troço acompanha o rio e para aqueles que acham que isto não é
programa de Verão, há uma surpresa ao km 40 * splash *
Um dos objectivos do Plano Nacional de Ecopistas é garantir a preservação do canal ferroviário para um eventual regresso do comboio no futuro.
Como sou uma pinga-amor ferroviária, nada me deixaria mais feliz, mas enquanto
isso não acontece as comunidades locais e os visitantes vão aproveitando, e de que maneira, a pé ou de bicicleta.
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