Na estrada que nos leva para Norte em direcção às montanhas Dolomites
apercebo-me, finalmente, que o ambiente austríaco que se sente nas províncias de
Trentino e Sudtirol vai muito mais além do que uma simples proximidade de
fronteiras: afinal toda esta zona pertencia ao Império Austro-Húngaro e só há menos de 100
anos atrás foi anexada a Itália.
Falamos de uma influência cultural que se estendeu durante mil anos e que no século XX, simplesmente, mudou.
Falamos de uma influência cultural que se estendeu durante mil anos e que no século XX, simplesmente, mudou.
Mas terá mudado?
Depois do choque inicial ao verificar o quão
resumido é o meu conhecimento da história da Europa, fui pesquisar mais um
pouco e descobri, uma vez mais, como as zonas fronteiriças e as suas gentes
são sempre tão fascinantes.
Existem várias regiões autónomas com estatuto especial em Itália.
Foram criadas por factores geográficos e com o intuito de proteger minorias
culturais e linguísticas. São o caso das ilhas da Sardegna e Sicília e das
regiões alpinas de Valle d’Aosta, Friuli-Venezia Giulia e Trentino Alto Adige –
Sudtirol.
Durante a 1ª Guerra Mundial toda a zona alpina foi
palco de grandes conflitos, principalmente nas montanhas Dolomites, entre os kaiserjager austríacos e os alpini italianos, para quem era de
extrema importância estratégica o controlo das montanhas. As montanhas ditavam o acesso
ao Mediterrâneo.
Assim, como um incentivo à participação na Guerra contra as Potências Centrais (Alemanha, Áustria, Hungria), os Aliados prometeram a Itália o território a sul dos Alpes. Esse território abrir-lhes-ia portas à apetecível hegemonia do Mediterrâneo.
Assim, como um incentivo à participação na Guerra contra as Potências Centrais (Alemanha, Áustria, Hungria), os Aliados prometeram a Itália o território a sul dos Alpes. Esse território abrir-lhes-ia portas à apetecível hegemonia do Mediterrâneo.
Quem ganhou a 1ª Guerra, isso eu já sabia.
Os pactos pós-conflito que desmantelaram o império austro-húngaro,
dividiram parte do território da Áustria como um espólio de guerra, incluindo a
região do Tirol, cuja metade a Sul dos Alpes, tal como prometido, passou a
pertencer a Itália, e a designar-se por Sudtirol. Estávamos em 1919.
O que se seguiu foi um período de "italianização" extrema da
população local, levado a cabo por Mussolini, que incluiu a proibição dos meios
de comunicação alemães, o ensino de alemão nas escolas, baniu nomes de família
e a cultura alemã no geral.
Posteriormente, Mussolini e Hitler combinaram que a população de língua alemã
deveria ser realojada na Alemanha e muitos deles só com grandes dificuldades
conseguiram regressar à sua terra natal que, contra a vontade do governo
austríaco, continuou a pertencer a Itália, após a 2ª Guerra Mundial.
Também sei quem ganhou a 2ª Guerra.
Os Aliados voltaram a decidir o destino desta província que
se manteria dentro das fronteiras de Itália, desde que fossem reconhecidos
direitos à comunidade de origem austríaca.
Mas a chegada de grandes vagas de imigrantes italianos nos
anos 50 levou ao aumento da tensão na região que culminou em ataques
terroristas por parte de separatistas neo-nazis e transformou a questão do
sudtirol numa questão de importância internacional.
Apenas nos anos 70 se chegou a um acordo bilateral austro-italiano capaz de agradar a ambas as partes, que passou por conceder maior autonomia da região dentro de Itália e que tem sido considerado um modelo político capaz de resolver disputas inter-étnicas e de proteger minorias linguísticas.
Apenas nos anos 70 se chegou a um acordo bilateral austro-italiano capaz de agradar a ambas as partes, que passou por conceder maior autonomia da região dentro de Itália e que tem sido considerado um modelo político capaz de resolver disputas inter-étnicas e de proteger minorias linguísticas.
Num pensamento simplificado, quando saí de casa, achei que vinha "conhecer as montanhas italianas", mas esta viagem acabou por se transformar em algo bem mais abrangente que isso. As montanhas são sempre zonas geo-políticas muito interessantes.
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