As histórias sobre a Patagónia evocam
invariavelmente paisagens de tirar o fôlego e para isso contribui, em larga
escala, o Parque Nacional das Torres del Paine, no Sul da Patagónia Chilena, uma
zona do mundo de terreno desafiador onde a estepe encontra os Andes
imediatamente antes de estes mergulharem abruptamente no Pacífico.
Depois de uma longa viagem desde El Calafate, que
inclui a travessia da fronteira da Argentina para o Chile, chegamos finalmente
à Laguna Amarga onde somos recebidos por uma simpática manada de guanacos a
petiscar arbustos à beira da lagoa.
É impossível não vibrar de emoção à medida que
nos vamos aproximando do Parque Nacional, que culmina no momento em que
avistamos ao longe as Torres gigantescas erguendo-se verticalmente do maciço
montanhoso.
A Laguna Amarga é a zona de entrada no Parque
onde compramos o bilhete e aguardamos por um transfer que nos leve para o
sector Las Torres onde vamos iniciar a nossa caminhada. Enquanto esperamos, vemos
muitas pessoas de pés descalços, a relaxar na relva verde, recostadas sobre as
próprias mochilas. Provavelmenre acabaram de chegar das suas caminhadas e
aguardam pelo próximo autocarro de volta a Puerto Natales. Mal podemos esperar
para saber o que estarão a sentir, para além de cansaço. Para já, ainda só sabemos
que estamos a chegar a uma daquelas zonas que aparecem sempre no top 10 de
qualquer ranking de trekkings do mundo.
A caminhada mais procurada das redondezas é o “Circuito
W” que se faz em 4-5 dias e nos leva às melhores vistas do Parque. Estas vistas
incluem lagoas azul-turquesa, glaciares colossais e montanhas recortadas, formidáveis. Quem tem mais tempo aproveita para fazer o “Circuito Completo” que
para além dessas vistas circunda todo o maciço Paine e demora 8-10 dias.
As noites podem ser passadas em refúgios ou
parques de campismo, que são geridos por 2 entidades: Fantastico Sur (ex:
Chileno, Cuernos) e Vértice Patagónia (ex: Grey, Paine Grande). Os acampamentos
into the wild, que são as zonas onde é permitido o acampamento dito “selvagem”, grátis e por isso básico, são geridos
pela CONAF a entidade responsável pela conservação do Parque (ex: camp Torres e
camp Italiano).
É preciso considerar que as caminhadas nas
Torres del Paine são muito mais movimentadas do que as caminhadas em El
Chalten, ou seja, os refúgios mais solicitados esgotam com semanas de
antecedência e até para acampar em alguns parques de campismo (seja nos que
existem junto aos refúgios, ou nos acampamentos into the wild) poderá ser necessário reservar.
Tal como em El Chalten, optamos por acampar, em
nome da aventura, do back to basics, da flexibilidade do itinerário e da
boa saúde do porquinho mealheiro. Os refúgios, para além de concorridos, são muito caros.
Para caminhar nas Torres del
Paine não é necessário guia, os trilhos são fáceis de seguir e estão todos
muito bem sinalizados.
No entanto, é preciso dizer, algumas caminhadas não são extremamente acessíveis. Algumas partes do trekking são literalmente longe de tudo, no meio da Natureza, com
recursos limitados, onde a comida, água, etc, chega em caravanas de cavalos, ou
às costas de porters e onde a estrada mais próxima poderá estar a mais do que
um dia a pé de distância.
A dificuldade das caminhadas é um assunto muito
relativo que para além do estado de “fitness” do caminhante, dependerá, naturalmente, do clima e do peso da mochila.
No meu caso, não sendo uma pessoa especialmente “fit”, e
tendo que carregar uma mochila de 12kg, confesso que no início talvez não estivesse muito optimista, mas no final dos 4 dias concluí, orgulhosamente, que tudo
é possível.
“If you really want to do something, you’ll find
a way.
If you don’t, you’ll find an excuse”.
Jim Rohn
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