Os
Alpes são conhecidos pelas suas oportunidades espectaculares de contacto com a Natureza.
A par de outras caminhadas de notoriedade mundial como o Caminho Inca (Peru), o trek para o Base Camp do Everest (Nepal), o W nas Torres del Paine (Chile) ou o trilho dos Apalaches (EUA), os caminhos de montanha dos Alpes fazem os entusiastas do outdoor atravessar continentes para percorrê-los.
De entre os
passeios de um dia até às grandes caminhadas de semanas, como a icónica Tour du Mont Blanc, a Haute Route que liga Chamonix a Zermatt ou as Altas Vias nas
Dolomites, foi difícil escolher.
Mas por fim decidimos deixar a enorme popularidade do Mont
Blanc para outra altura e depois de uma breve paragem em Zermatt para conhecer
o Matterhorn, escolhemos as Dolomites para a maior parte das caminhadas desta
incursão aos Alpes.
Esta
escolha também foi motivada pelo facto de as Dolomites serem a zona que alberga
maior concentração de vias ferratas do mundo.
Uma
via ferrata (klettersteig em alemão)
é um percurso que se encontra equipado com elementos de protecção que facilitam
a progressão e ajudam à segurança do montanhista, como por exemplo, pontes
suspensas, escadas, cabos e varões de aço que servem de degraus. Durante a 1ª
Guerra Mudial, os soldados italianos prepararam as vertentes destas montanhas
deste modo para que as tropas se pudessem movimentar mais rapidamente pelo
terreno acidentado. Ou seja, as vias ferratas das Dolomites para além
de possibilitarem o acesso a zonas muito remotas são também vias com elevada
importância histórica.
A
primeira vez que ouvi falar em via ferrata foi quando percorri o Caminito del Rey, em Espanha, antes da sua reabilitação. Nessa altura o caminho apresentava
vários troços perigosos e foi necessário percorrer todo o Caminito com
equipamento específico que incluía um arnês sempre ligado a uma linha de vida, que
fazia desse percurso uma via ferrata.
Nas
Dolomites existem vias ferratas de todas as dificuldades, desde as fáceis em que
só é necessário caminhar em caminhos relativamente estreitos às mais difíceis que
envolvem maior ganho vertical, maior exposição, domínio de técnicas de escalada
ou que requerem bastante força e equilíbrio. O mais importante é não ter
vertigens.
Existem
vias ferratas tipo “one way” em que depois é preciso voltar ao ponto de partida
pelo mesmo caminho ou por outro alternativo, e as que servem para ligar trilhos
relativamente isolados e assim encurtam distâncias nas caminhadas rifugio-to-rifugio.
As
principais caminhadas nas Dolomites são as Altas Vias, itinerários pedonais que
atravessam as montanhas de Norte para Sul. Existem 8 Altas Vias, a mais popular
é a Alta Via 1 entre Dobbiaco no Norte e Belluno no Sul, com aproximadamente 120
km de cenário espectacular, percorrido em altitudes médias/altas, normalmente
em 10 dias.
É
proibido acampar ao longo da Alta Via mas, para além dos hotéis nos vales,
existe uma ampla rede de refúgios de montanha ao longo do percurso.
Os
refúgios podem ser básicos com dormitórios comunitários, wc exterior e refeições
à base do prato de esparguete para todos os hóspedes, ou praticamente de luxo, em que oferecem quartos privados, com água quente, refeições completas com entrada,
prato principal, sobremesa e café. Muitos deles têm ainda abrigos que podem
acolher pessoas extra no caso da lotação estar esgotada, em dias de mau tempo ou se alguém aparecer inesperadamente já de noite. Todos devem ser reservados com bastante antecedência, no pico do Verão, e todos estão localizados em sítios espectaculares.
Para
caminhar nas Dolomites é melhor ir preparado com um mapa topográfico com os
percursos marcados e um guia que descreva o percurso, alternativas e possíveis “fugas”.
Relativamente
à carga na mochila e ao equipamento necessário, para além da habitual roupa em
camadas que nos proteja do frio e da chuva (mesmo no Verão), apesar de não ser necessário levar tenda nem muita comida, quem pretender
atravessar uma via ferrata (que não é obrigatório na AV1, mas é muito recomendável) deve contar com o
peso/espaço extra para o capacete, arnês e “kit via ferrata”.
Neste caso, ao considerar combinar troços de caminhada com troços de via ferrata, deve apostar em sapatos de caminhada que sejam um bom
compromisso entre conforto, protecção e flexibilidade, em vez do habitual par de botas pesadas de trekking.
E levar luvas sem dedos que protejam a mão da fricção dos cabos de aço mas que deixem os dedos livres e sensíveis para manusear mais facilmente os mosquetões.
E levar luvas sem dedos que protejam a mão da fricção dos cabos de aço mas que deixem os dedos livres e sensíveis para manusear mais facilmente os mosquetões.
A
Alta Via 1 das Dolomites desenvolve-se resumidamente entre os 2000 e os 2800 m
de altitude, por isso a melhor época para caminhar é entre Julho e Setembro. É
um curto período que se impõe por motivos meteorológicos com neves que se
prolongam até tarde (Junho) nas zonas mais altas e que podem ser precoces
(Setembro) deixando os caminhos intransitáveis. Mesmo no Verão é possível que
ocorram nevões fora de tempo que não são nada de especial mas demoram 1 ou 2
dias a derreter.
Com o passar do tempo tenho vindo a descobrir que há poucas coisas que me dêem tanta satisfação nas férias como uma caminhada de vários dias. Somos nós e a Natureza e as preocupações primordiais: abrigo, comida, um pé à frente do outro e aproveitar a vista.
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