A pequena povoação de El Chalten está
localizada na zona Norte do Parque Nacional dos Glaciares. Apesar de ter sido fundada nos
anos 80 para assegurar território à Argentina (durante um período conturbado de disputa de fronteiras com o Chile), nos dias que correm é muito mais conhecida por servir de base de exploração e apoio logístico ao crescente número de entusiastas da
montanha que sazonalmente visitam a região, com o objectivo de caminhar nos
percursos próximos aos picos mais famosos das redondezas: o maravilhoso Cerro
Fitz Roy e o caprichoso Cerro Torre.
Assim que chegamos à vila somos recebidos pelos guardaparques do
Parque que nos fazem uma pequena apresentação dos trilhos recomendados e
disponíveis, dos tempos aproximados que levam a percorrer, da fauna que podemos
encontrar e de algumas regras de coexistência e preservação do ecossistema.
Uma das coisas mais fantásticas de El Chalten,
é que os percursos são muito acessíveis, ou seja, a vila está situada tão perto
das montanhas que é possível fazer caminhadas diárias ultra-panorâmicas de ida
e volta e ficar a dormir num hostel na vila, sem ser necessário preocupar com dormir em
tenda, WC into the wild, a logística das comidas e a inquietação de carregar uma mochila pesada.
Mas no nosso caso optamos por acampar. Em nome da aventura e do back to basics, mas também em nome da flexibilidade do itinerário e da boa saúde do porquinho mealheiro. Os
alojamentos, quer em Chalten, quer nas Torres del Paine, para além de serem
muito caros, podem facilmente esgotar na época alta.
Ter de reservar (e pagar) com muito tempo de antecedência retira a flexibilidade aconselhável a uma experiência que pode muito bem necessitar de ajustes devido à meteorologia.
Ter de reservar (e pagar) com muito tempo de antecedência retira a flexibilidade aconselhável a uma experiência que pode muito bem necessitar de ajustes devido à meteorologia.
Para além do alojamento, outra das questões
mais frequentes é se é necessário recorrer ao serviço de um guia ou se os
trilhos são fáceis de seguir indo sozinho: em El Chalten, os percursos mais
conhecidos estão todos bem sinalizados e são muito fáceis de seguir. Não é
necessário contratar guia, nem levar GPS, nem sequer mapa.
“Naquela
direcção encontram o Fitz Roy, naquela fica o Cerro Torre, mais além o Glaciar
Piedras Blancas”, continuava o guardaparque, apontando para o
horizonte.
A expectativa era muita mas a verdade é que,
por muito que abríssemos os olhos, não conseguíamos ver nenhum dos pontos de
interesse referidos. A visibilidade estava próxima de zero.
Não fazíamos ideia de onde se localizavam, se estariam perto ou longe.
Não fazíamos ideia de onde se localizavam, se estariam perto ou longe.
E, para culminar, dali a pouco começava a
chover.
Ou seja, a nossa caminhada estava perto de se tornar
tudo excepto ultra-panorâmica. Senti a necessidade de aventura fraquejar. Dúvidas e pensamentos do tipo “Vim para tão
longe e para além de não ver as montanhas, agora ainda vou acampar à chuva?”, surgiram-me
automaticamente.
Mas não havia grande coisa a fazer.
O nosso parque de campismo estava a 10km e 4h de distância.
Compramos mantimentos para os 3 dias seguintes e pomo-nos a caminho debaixo do céu cinzento, procurando ajustar o mindset:
“Patagonia,
give me everything you’ve got.”
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