13 de julho de 2006

Acampamento nas Dunas de Merzouga

A chegada ao Kasbah Tombouctou foi entusiasmante... tínhamos finalmente chegado... O albergue era como uma fortaleza. À frente, virado para as dunas havia um acampamento onde os hóspedes podem pernoitar se não quiserem ficar num quarto.... e mais à frente um grande conjunto de camelos relaxava perto de um poço.

Vieram acolher-nos à rua, ofereceram-nos chá e conversaram connosco sobre a possibilidade de acampar nas dunas.
Ficámos encantados com a simpatia deles e com nossa fortaleza... não sabíamos se ir se ficar... queríamos tudo.

Mas dali a 10 minutos já estávamos a postos para partir numa caravana de camelos em direcção a um acampamento berbere no meio de nenhures. Não levei nada... só a roupa do corpo, a máquina fotográfica e o turbante tímido enrolado ao pescoço.


Connosco, a conduzir os camelos, vinha um rapaz de roupagens e turbante azuis. Deixou as sandálias no limiar da areia e fez o caminho todo a pé, descalço.
A viagem durou praticamente 2 horas... e a meio do caminho caiu a noite e levantou-se a Lua no horizonte... cheia.
Perfeito.

Chegámos ao acampamento depois do meu camelo rebolar duna abaixo – comigo em cima - duas vezes... Estavam mais cansados que nós, coitados... Assim, fiz a parte final do percurso a pé porque o bicharoco se recusou a continuar caminho...
Já quase me tinha esquecido de como é difícil caminhar na areia.

Aguardavam-nos homens e rapazes, todos vestidos de azul, os responsáveis pela manutenção do acampamento. Deram-nos as boas vindas e conduziram-nos às tendas negras dispostas em círculo à guarda de uma duna gigante. Havia mesinhas com candeeiros e velas, espreitámos e dentro das tendas vimos camas e cobertores e lençóis... tudo muito acolhedor e confortável para não faltar nada ao turista, claro.

O jantar foi um autêntico pitéu bem temperado e delicioso. Depois os berberes vieram ao nosso encontro e sentaram-se no nosso tapete. Conversámos um pouco – só alguns falavam francês – diziam que gostavam de viver no deserto e os mais novos perguntaram se também tínhamos a Lua e as estrelas em Portugal.
“Como estas não...” respondemos.

Começaram a tocar e a cantar... nós também, mais desajeitados, e no final dançámos todos juntos até estarmos cansados.

Algures, não sei quando, caí no colchão que me estava destinado e adormeci com o “silêncio do deserto” no ouvido e a luz da Lua derramada na pele.

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Foi de todas a noite mais bem dormida


13-Junho-2006, Terça-Feira
Levantámos às 5h00 para ver o nascer do sol nas dunas, já era bem de dia.
Foi duro subir aquela duna gigante com os pés e as pernas a enterrarem-se constantemente... a areia a escorregar.. e nós a escorregarmos com ela... e quanto mais se subia... mais se escorregava, mais vento estava.... e quanto mais vento estava menos podíamos abrir os olhos para olharmos toda a imensidão que nos rodeava...
... ... (sem palavras) ... ... ...


O afamado “silêncio do deserto” mostrou ser não mais que uma quimera perdida em versos de poesia... pois basta uma aragem para o deserto ser profundamente ruidoso.
Enquanto descia a duna sozinha experimentei o meu primeiro momento de solidão desta viagem. Uma solidão de pessoas. Uma sensação alegre e sorridente de se estar acompanhado de sítios e não de gente. Como se os sítios falassem e as pessoas desaparecessem... ou então como se os sítios fossemos nós.


Depois da descida, despedimo-nos dos nossos anfitriões e rapidamente nos fizemos ao caminho de volta ao albergue.



A viagem correu bem e desta vez ninguém resvalou duna abaixo... 2h depois, ao longe começou a avistar-se o Kasbah...

... o nosso pastor de camelos calçou as sandálias e nós regressámos à nossa tímida Lua e às nossas insuficientes estrelas.

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