18 de maio de 2016

magalhães

Deixamos Puerto Natales de autocarro numa longa viagem que nos levará até à cidade argentina de Ushuaia. Para lá chegar, atravessamos a província chilena denominada “de Magallanes y de la Antartida Chilena”. 
Deixamos os Andes para trás e por algumas horas voltamos à árida estepe patagónica.



Não posso deixar de me orgulhar quando percebo que muitas coisas no Chile, no outro lado do mundo, herdaram o nome de Fernão de Magalhães, provavelmente o maior explorador de todos os tempos, um português.
Esta região, várias espécies de animais e claro, o Estreito que o nosso navegador atravessou em 1520, herdaram o seu nome.


Na altura, o talento e a coragem de partir à descoberta eram portugueses mas o capital que financiou a sua expedição foi, como se sabe, espanhol.
Portugal foi forreta, mas também havia toda uma outra questão “burocrática” relacionada com o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, que dividia as terras "descobertas e por descobrir" entre Portugal e Espanha. Portugal não podia simplesmente navegar para onde quisesse em direcção ao infinito. A descoberta de novas terras no mundo, ainda pouco conhecido, para lá das 370 léguas a Oeste de Cabo Verde já não estava na ordem de trabalhos de Portugal, agora pertencia a Espanha.

Assim, Magalhães pôs-se ao serviço de Espanha com o objectivo de chegar às Molucas, navegando para Ocidente, por mares não reservados aos portugueses e tentando provar que as tão disputadas Ilhas das Especiarias, talvez estivessem na metade do mundo espanhola.

Depois da travessia do Atlântico e de várias tentativas em vários rios e baías sul americanas, Magalhães navega o estreito entre a terra de gigantes a quem chamou de patagões, a Norte, e a terra onde se avistavam inúmeras fogueiras indígenas, a Sul. 
Magalhães baptiza assim a Patagónia e a Terra do Fogo, mas não se fica por aqui. 
Ao chegar a um novo oceano, calmo e sereno, quando comparado à agitação e ventania suportadas ao atravessar o estreito, Magalhães chama-lhe Pacífico.


Notei que há um certo orgulho chileno no nome Magalhães. Em Punta Arenas ergueram-lhe uma estátua num monumento e construíram uma réplica da Nau Victoria, a única da sua expedição que regressou a Espanha (a primeira nau a circum-navegar a Terra).

Nas Filipinas, que foram descobertas pela expedição de Magalhães e onde ele acabaria por morrer depois de atravessar o Pacífico e provar que a circum-navegação à Terra era possível, também encontrámos muitas referências e monumentos ao navegador.

Mas eu, confesso que só depois de voltar desta viagem reparei que a estátua que está no centro da Praça do Chile, em Lisboa, é o Fernão de Magalhães. 
Mais tarde, após alguma pesquisa, aprendi com surpresa, que é uma estátua gémea da que está em Punta Arenas, que é do mesmo escultor e que foi oferecida pelo governo do Chile a Portugal. 

Gostava que o gabássemos assim no nosso país. 
A ele e aos outros que, como ele, partiram em direcção ao desconhecido.



Não há vento quando atravessamos o Estreito de Magalhães. 
É uma travessia calma num ferry pouco dado a poesias. 
Mas há pelo menos 2 portugueses a navegar as mesmas águas que um tal Fernão de Magalhães, português, navegou antes de todos os outros.



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