14 de dezembro de 2016

dolomites [via ferrata e alta via]

Os Alpes são conhecidos pelas suas oportunidades espectaculares de contacto com a Natureza. 

A par de outras caminhadas de notoriedade mundial como o Caminho Inca (Peru), o trek para o Base Camp do Everest (Nepal), o W nas Torres del Paine (Chile) ou o trilho dos Apalaches (EUA), os caminhos de montanha dos Alpes fazem os entusiastas do outdoor atravessar continentes para percorrê-los. 

De entre os passeios de um dia até às grandes caminhadas de semanas, como a icónica Tour du Mont Blanc, a Haute Route que liga Chamonix a Zermatt ou as Altas Vias nas Dolomites, foi difícil escolher. 

Mas por fim decidimos deixar a enorme popularidade do Mont Blanc para outra altura e depois de uma breve paragem em Zermatt para conhecer o Matterhorn, escolhemos as Dolomites para a maior parte das caminhadas desta incursão aos Alpes. 



Esta escolha também foi motivada pelo facto de as Dolomites serem a zona que alberga maior concentração de vias ferratas do mundo.

Uma via ferrata (klettersteig em alemão) é um percurso que se encontra equipado com elementos de protecção que facilitam a progressão e ajudam à segurança do montanhista, como por exemplo, pontes suspensas, escadas, cabos e varões de aço que servem de degraus. Durante a 1ª Guerra Mudial, os soldados italianos prepararam as vertentes destas montanhas deste modo para que as tropas se pudessem movimentar mais rapidamente pelo terreno acidentado. Ou seja, as vias ferratas das Dolomites para além de possibilitarem o acesso a zonas muito remotas são também vias com elevada importância histórica.

A primeira vez que ouvi falar em via ferrata foi quando percorri o Caminito del Rey, em Espanha, antes da sua reabilitação. Nessa altura o caminho apresentava vários troços perigosos e foi necessário percorrer todo o Caminito com equipamento específico que incluía um arnês sempre ligado a uma linha de vida, que fazia desse percurso uma via ferrata.


Nas Dolomites existem vias ferratas de todas as dificuldades, desde as fáceis em que só é necessário caminhar em caminhos relativamente estreitos às mais difíceis que envolvem maior ganho vertical, maior exposição, domínio de técnicas de escalada ou que requerem bastante força e equilíbrio. O mais importante é não ter vertigens.

Existem vias ferratas tipo “one way” em que depois é preciso voltar ao ponto de partida pelo mesmo caminho ou por outro alternativo, e as que servem para ligar trilhos relativamente isolados e assim encurtam distâncias nas caminhadas rifugio-to-rifugio.

As principais caminhadas nas Dolomites são as Altas Vias, itinerários pedonais que atravessam as montanhas de Norte para Sul. Existem 8 Altas Vias, a mais popular é a Alta Via 1 entre Dobbiaco no Norte e Belluno no Sul, com aproximadamente 120 km de cenário espectacular, percorrido em altitudes médias/altas, normalmente em 10 dias.


É proibido acampar ao longo da Alta Via mas, para além dos hotéis nos vales, existe uma ampla rede de refúgios de montanha ao longo do percurso.

Os refúgios podem ser básicos com dormitórios comunitários, wc exterior e refeições à base do prato de esparguete para todos os hóspedes, ou praticamente de luxo, em que oferecem quartos privados, com água quente, refeições completas com entrada, prato principal, sobremesa e café. Muitos deles têm ainda abrigos que podem acolher pessoas extra no caso da lotação estar esgotada, em dias de mau tempo ou se alguém aparecer inesperadamente já de noite. Todos devem ser reservados com bastante antecedência, no pico do Verão, e todos estão localizados em sítios espectaculares.

Para caminhar nas Dolomites é melhor ir preparado com um mapa topográfico com os percursos marcados e um guia que descreva o percurso, alternativas e possíveis “fugas”.


Relativamente à carga na mochila e ao equipamento necessário, para além da habitual roupa em camadas que nos proteja do frio e da chuva (mesmo no Verão), apesar de não ser necessário levar tenda nem muita comida, quem pretender atravessar uma via ferrata (que não é obrigatório na AV1, mas é muito recomendável) deve contar com o peso/espaço extra para o capacete, arnês e “kit via ferrata”.

Neste caso, ao considerar combinar troços de caminhada com troços de via ferrata, deve apostar em sapatos de caminhada que sejam um bom compromisso entre conforto, protecção e flexibilidade, em vez do habitual par de botas pesadas de trekking. 
E levar luvas sem dedos que protejam a mão da fricção dos cabos de aço mas que deixem os dedos livres e sensíveis para manusear mais facilmente os mosquetões.

A Alta Via 1 das Dolomites desenvolve-se resumidamente entre os 2000 e os 2800 m de altitude, por isso a melhor época para caminhar é entre Julho e Setembro. É um curto período que se impõe por motivos meteorológicos com neves que se prolongam até tarde (Junho) nas zonas mais altas e que podem ser precoces (Setembro) deixando os caminhos intransitáveis. Mesmo no Verão é possível que ocorram nevões fora de tempo que não são nada de especial mas demoram 1 ou 2 dias a derreter.


Com o passar do tempo tenho vindo a descobrir que há poucas coisas que me dêem tanta satisfação nas férias como uma caminhada de vários dias. Somos nós e a Natureza e as preocupações primordiais: abrigo, comida, um pé à frente do outro e aproveitar a vista.

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