21 de junho de 2005

Vida de Deserto

16 – Mai – 2005: Acordámos de manhã bem cedo ao som da chaleira e do despertador... quando saímos da tenda encontrámos a mesa posta num tapete no chão, com pão, doce, manteiga, queijo, café e o chá fumegante. Conhecemos então um novo Mohamed – o berbere sorridente – condutor/tratador/encontrador de camelos.
Em pouco tempo tínhamos o acampamento levantado e iniciávamos a nossa caminhada. Andámos e andámos... debaixo de um sol escaldante...
No caminho passámos por um rebanho de cabras apascentadas por uma menina... Almoçámos num oásis - seco - e quando lá chegámos já o Mohamed tinha preparado para nós uma sombra onde descansámos o corpo.....

O ALMOÇO era uma salada enorme e incrivelmente fresca com massa, tomate, pepino, cebola, atum, sardinha, queijo... e depois melão, adorámos. A menina pastora juntou-se a nós, ofereceu-nos a sua companhia e nós oferecemos-lhe o almoço.
Depois de descansarmos mais um pouco partimos novamente, com o Mohamed a cantar para nós e para os camelos, descendo o rio seco que passava no oásis. Bem fácil ter miragens da água a correr... Estamos numa zona de montanha, pedregosa, por vezes encontram-se rebanhos de cabras e construções circulares de pedra aparelhada que indicam a presença de nómadas.
Passámos por uma família que nos acenou ao longe. De lá saiu um miúdo pequeno a correr de pés descalços e sujos nos pedregulhos... primeiro pensámos que vinha pedir esmola... mas o Abdel traduziu “Ele está a convidar-vos para beber chá com a família”... .... .. Estamos bem longe daquilo que conhecemos... somos constantemente “humilhados” pela simpatia e vontade de acolher desta gente inexplicável.


Montámos acampamento num vale e rodeados de planaltos descansámos, contemplámos, rimos, conversámos, escrevemos, bebemos o chá. Falámos sobre a vida dos nómadas que é tão agreste e difícil. Sem residência fixa, vivem em tendas rodeadas por pedras, cuidam das suas cabras que são o seu sustento. Existem. Abdel falou-nos sobre a sua religião e a concepção de paraíso/inferno dos muçulmanos. De como têm 2 anjos sobre os seus ombros que vão anotando as boas e más acções a serem pesadas numa balança no dia do juízo final. Explicou que o cumprimento “Salamalekoum” – “Que a paz esteja convosco” está no plural porque para além da pessoa também se cumprimentam os anjos. Falámos dos vários dialectos berberes que se falam em Marrocos e da relação entre homem e as suas (possíveis) 4 mulheres. Aqui entrámos num intransigente desacordo.... ehehe.

Mohamed, o guia de camelos, é uma pessoa muito interessante, simpatizámos logo com ele apesar de termos trocado apenas algumas palavras soltas em francês. É um antigo pastor de camelos, sempre de sorriso rasgado quer no sol abrasador, quer na tempestade de areia, quer à hora do jantar. Está sempre a cantar, responde a tudo com um “merci madame”, faz questão de soltar os camelos sempre que fazemos uma paragem mais prolongada para andarem à vontade e procurarem alimento. Depois tem que ir à procura deles para os trazer de volta. Dorme na rua com os camelos em vez de se abrigar dentro da tenda grande, coabita com todos os bichinhos e baratinhas do deserto não faz como os restantes que as afastamos assim que chegam a 10 cm. Quando jantamos é incrível a maneira como se dobra todo sobre si próprio ocupando menos espaço que nós, os mais pequenos que ele. “Tix! Tix!” – “Mange bien, Marche bien!” Insiste ele, para comermos mais, mesmo depois de termos repetido 2 vezes!

(Agora aqui um parêntesis para sublinhar a derrota estrondosa daquele que era o nosso maior receio ao iniciar esta viagem. Sermos 2 mulheres sozinhas no deserto. Isso não seria nunca um motivo de desistência mas foi-o de alguma apreensão. TRETAS. O pessoal que nos acompanhou foi sempre 5 estrelas e a sua preocupação era no sentido de nos sentirmos bem e principalmente tivéssemos umas boas férias. Não sei o que tinha na cabeça.)

Para o JANTAR cozinha-se Cous-cous ou Tajine com legumes. Entramos todos para a tenda grande e sentamo-nos à volta das velas no tapete, descalços. As mulheres têm que servir os homens, tradição. Há sempre a Harira, a sopa espessa marroquina de sabor muito apurado e super deliciosa... repetimos sempre 2 ou 3x por gulodice...

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