8 de fevereiro de 2012

Mas quem é que pode gostar da Índia?

Para nós, Varanasi está muito longe de tudo o que encontramos nos sítios que chamamos de “casa”. Está no lado oposto. 
Mas isso não quer dizer que tenha sido um alívio entrar no Chaurichaura Express em direcção a Gorakhpur e ao Nepal. 
Antes pelo contrário. Deixo Varanasi com um nó na garganta. Neste caso, deixar Varanasi significa também deixar a Índia e o seu mundo, aos nossos olhos, primitivo.

Dizem-me “é muito fácil dizer que se gosta da Índia quando a quantidade de tempo que lá se esteve se mede em dias, em vez de meses”. Talvez.
Dizem-me que “é cool” dizer que se gosta da Índia, que se sobreviveu! Que só por isso é que é possível existir tanta gente a dizer que gosta. Porque na realidade só pode ser impossível gostar desta balbúrdia toda.

Mas o que eu digo – e perdoem-me o cliché – é que só é possível gostar se se olhar para além do que está à superfície. Quanto ao resto, é a teoria do surfista que é enrolado na onda: não tentar combater o que não é combatível. Simples.
Só se pode gostar depois de interiorizada a máxima do haja o que houver, é tudo ganho!
Percebi que a oportunidade de estar num universo tão desigual é 100% win-win. E para isso, abraçar o caos é muito mais libertador que tentar percebê-lo. É que nem vale a pena ficar chateado quando somos abalroados na rua por um ciclista ou quando insistem em tentar engraxar-nos os sapatos mesmo que naquele dia tenhamos calçado havaianas.

Ou seja, se o que se pretende é relaxar de pés na areia e caipirinha na mão, zero de confusões e muita gente sorridente o melhor é ir para outro lado.

À chegada vinha ressacada por um bocado de boa vida, e há tanta no Mediterrâneo ou ali ao lado no Sudeste Asiático. Ressacada por um bocado de organização, como a nossa europeia ou como a do Japão, milimétrica... Mas não posso deixar de pensar que se lá estivesse em vez de na Índia iria sentir falta daquele je ne sais quois que me deixa literalmente o coração a palpitar...

e não sou a única.

1 comentário:

MH disse...

Não irei á Índia, mas para quem quer arriscar,ver "in loco"dá a verdadeira noção da realidade.