27 de abril de 2011

Quando apetece -mesmo- dar gorjeta

Os que viajam com budgets apertados – e se calhar os outros também, não sei – sabem que é preciso contar com aquelas despesas inesperadas, inoportunas e às vezes até responsáveis por não termos a mais pálida ideia de onde, quando e como acabámos por gastar tanto dinheiro...
Porque como diz o ditado, é grão a grão que se enche o papo...

E se nos países “evoluídos” esta despesa é tudo menos invisível, pois até aparece discriminada na conta... noutros países, como em Portugal, a gorjeta é medida a sentimento. Tipo: damos se o serviço for bom ou se alguém nos tiver mesmo desenrascado de uma situação chata.... ou então, não damos.
O problema, quando viajamos, é que o sentimento como medida da gorjeta já era... e chato é ela ser-nos praticamente extorquida em situações muito pouco merecedoras...

Isto porque, como já me explicaram sem contemplações, “somos brancos e os brancos são ricos”. Toma.

Ainda assim, há vezes em que com budget apertado ou não, apetece -mesmo- dar gorjeta.
E não só dar gorjeta... como também, pagar a dobrar, porque não?...
Acontece quando nos fazem sentir -mesmo- bem. Quando para além da troca “dinheiro por serviço”, temos mais qualquer coisa... ou então, quando percebemos que aquela pessoa gosta -mesmo- daquilo que faz... e fá-lo com entusiasmo.
Porque pessoas assim.
Seja num restaurante de 5 estrelas em Manhattan seja a lavar chão numa pensão em Agra.

Aconteceu em Jodhpur na casa de um senhor que encontrámos numa daquelas ruas azuis. Ele tinha uma colecção de notas de todos os países, incluindo notas de cem escudos, que exibia orgulhosamente.
E o que se passa na Índia é que não é anormal encontrar pessoas extremamente simpáticas... anormal é que não nos peçam algo em troca da simpatia... e ele não pediu.
Jantámos no terraço dele, conversámos com a família dele... daquelas conversas sem palavras, dançámos na rua com as crianças porque era dia de festival em homenagem a Durga.
Pelo jantar pagámos o preço miserável em rupias que nos pediram... e deixámos a gorjeta em euros... para actualizar a colecção.



Noutro jantar, aconteceu em Kastraki quando nos convidaram a espreitar a cozinha antes do jantar estar feito. Ensinaram-nos sobre os pratos típicos gregos, como se chamam, que ingredientes levam, como se cozinham... De tal modo que foi impossível não provar todas aquelas iguarias deliciosas... A melancia à sobremesa foi oferta da casa e quando saímos –a rebolar- para a caminhada até Kalambaka ainda nos fizeram voltar à cozinha para provar o bolo de laranja especial da cozinheira acabadinho de sair do forno... Ainda por cima... esse é o meu bolo preferido!



Também me apeteceu -mesmo- dar gorjeta num coffe shop de shisha em Amman.
Quem fuma estes cachimbos de água de vez enquando sabe que o seu “tempo de vida” está limitado ao tempo durante o qual o carvão está incandescente.
Na maior parte do tempo as pessoas que trabalham nestes bares trazem-nos o cachimbo com o carvão e pronto.... e à medida que este se consome, acaba-se o cachimbo.
Mas naquele coffe shop havia um empregado cuja função era apenas manter os carvões bem incandescentes nos cachimbos dos clientes. Eu observei-o demoradamente... e vi que fazia tudo de um modo muitíssimo profissional. Não só se limitava a retirar a cinza cuidadosamente e a colocar um novo carvão incandescente, mas também verificava a cada vez, se o cachimbo defumava bem e se tudo estava em condições do cliente continuar a desfrutar do cachimbo.

E o meu sentimento como medida de gorjeta, diz-me que devemos gratificar aquelas pessoas que fazem o que fazem com entusiasmo.

1 comentário:

ana disse...

Em Praga, pedi um Apfel struddel e paguei 59coroas. A empregada ficou a olhar para o pratinho pois eu não deixei gorjeta. Acontece que, ela limitou-se a levar-me o bolinho à mesa e a dar o talão do recibo. Se a vida está difícil para ela, para mim também está...

Bem, mas concordo contigo! Por ex, na grécia fomos muito bem atendidas e deixámos gorjeta mais de uma vez, pois as senhoras eram extremamente prestáveis e levavam-nos de perto a ver os pratos antes de os porem na mesa :DDD

Qd vou ao Norte de Portugal, é inevitável não deixar gorjeta :~~~~
Gostei deste post.. Em tempo de crise, dá para reflectir!

bjinho

ana