23 de janeiro de 2012

sítio de passagem

Varanasi mantém as suas práticas religiosas desde há muitos séculos, fora das actividades histórico–políticas do país e é o centro do universo hindu que se estende por todo o subcontinente indiano desde Cashmira no Norte a Kerala no Sul.

Os hindus acreditam que Varanasi foi fundada por Shiva, o deus da transformação.
O desejo mais profundo de cada hindu é visitar Varanasi pelo menos uma vez na vida, mergulhar nas águas sagradas do Ganges como forma de absolvição dos pecados e se possível morrer aqui numa idade avançada, pois quem morrer nesta cidade nas margens do Ganges tem garantida a passagem para o Nirvana sem novo ciclo de reencarnação: o ciclo quebra-se, a alma salva-se, os pecados limpam-se. 

No Marnitakanika Ghat, vemos cremações ao vivo. Aqui os de casta mais baixa, os "intocáveis", tratam dos mortos e protegem o fogo eterno sagrado (ateado pelo próprio Shiva) usado para acender o fogo das piras de cremação. Também fazem contas aos quilos de madeira necessários para queimar determinado corpo. As cinzas são atiradas ao Ganges.
Ninguém chora junto dos corpos em chamas.

Quem não tem dinheiro para comprar a lenha necessária para queimar o seu familiar, atira simplesmente o corpo ao rio.
Há muitos idosos e viúvas que procuram refúgio na cidade esperando passar aqui os últimos dias da sua vida...




Para um ocidental o mais marcante nesta cidade é a proximidade da morte.
Em Varanasi a morte está presente em todo o lado, tal como a vida, a luz e o sagrado, tal como o podre e os cães a roerem ossos.
Mas para os hindus, a morte não é o fim, é apenas outro começo e Varanasi é um sítio de passagem.

2 comentários:

MH disse...

Nunca irei perceber esta cultura... e não estou preparada para a aceitar.

Lilian disse...

Gosto muito da sua escrita, limpa, realista, mas poetica.