20 de fevereiro de 2006

'SIENA'

30-Set-2003, Terça-Feira

Ai, Siena medieval! «suspiros»


Esta é uma cidade construída sobre 3 colinas de cor ocre, vermelho ocre. Até há um pigmento que se chama “Rouge de Siena” que é utilizado para fabricar tintas e óleos. Siena é a segunda maior cidade da Toscana e desde a sua fundação que é vista como a rival da capital, Florença.
Diz a lenda que a cidade foi fundada pelos filhos de Remo, por isso podemos ver em vários sítios a estátua da loba a amamentar os gémeos. Na altura da construção dos Duomos destas cidades havia entre as duas competição desenfreada para ver qual teria o Duomo maior, mais bonito, com melhor mármore. Consta que a espécie de competição foi ganha por Florença apenas por causa de uma peste que assolou a rival e matou grande parte dos seus habitantes.


É uma cidade com o centro medieval pequenino e acolhedor, com ruelas estreitas e vermelhas que sobem e descem mas acabam sempre por nos levar à praça principal, Il Campo. É uma praça dominada pela sua torre que tinha a dupla função de defesa e de sítio para pendurar os belos tecidos produzidos pela região da Toscana. Bebemos o café no “Alessandro Nanninni” e provámos Pão Forte, a especialidade de Siena.


Mas Siena também é famosa por causa da corrida de cavalos que acontece todos os anos nos dias 2-Julho e 16-Agosto, desde 1856: “ Il Palio
dela contrade”.

16-Agosto-2001
“Não percebo porque tive que sair de Florença a toda a pressa! Ver uma corrida de cavalos? Que ainda por cima dura 90 segundos?”
Foi o pensamento dominante. Mas rapidamente se diluiu assim que Siena começou a lançar o seu feitiço sobre nós. Encontramos uma vila pequena parada no tempo, regressamos à idade das trevas. Não faltam os archotes ao lado das janelas de madeira e bandeiras coloridas enfeitam as ruas. Delimitam as “contrades”, os bairros.
Cada bairro tem o seu símbolo, a sua bandeira e hoje vai decidir-se quem é o melhor, o vencedor. Avisaram-nos logo pela manhã “se quiserem ver a corrida vão logo para o centro da praça para ficarem com bons lugares”. E às 14h, lá estávamos a torrar ao Sol, presos dentro da cerca, porque este não era um espectáculo tradicional em que o público está fora da arena e lá dentro estão as atracções. Não, na arena estávamos nós, e os cavalos iam correr à nossa volta.
Também há bancadas com lugares na periferia na praça... mas já haviam esgotado há muito... hum... mesmo que não tivessem esgotado... 10-20-30 contos cada um... será?
Aceitam-se apostas... Quem será o vencedor... Será o Porco-espinho? A Girafa? A Torre? A Tartaruga?... Há 17 bairros, 17 cavalos... mas nem todos podem participar, só 10, os melhores que foram escolhidos em eliminatórias. Eu torço pelo Unicórnio... mas desta vez não participa... então elejo as cores rosa e verde do Dragão.
Nas janelas as pessoas vão-se acumulando à medida que o tempo passa... e à medida que o tempo passa vai o sol descendo e a sombra invadindo a praça para nos aliviar... a uns mais rapidamente que a outros. Quem ficou por baixo da torre teve sorte!
A Piazza Il Campo vai-se enchendo... a partir de uma certa altura já não se pode sair, só entrar. Algumas pessoas saem em macas, se calhar desidratadas do calor...
Mas finalmente começa... são 17h... É a hora do cortejo. Os gonfalonieri (=porta-estandartes) vão entrando vestidos a rigor, com as cores de cada bairro, e percorrem todo o perímetro da praça atirando as bandeiras ao ar. Atrás dos gonfalonieri desfilam os cavalos depois de terem partido das suas igrejas onde foram benzidos pelo padre que lhes deu a preciosa missão "Vai e regressa vitorioso!" São as verdadeiras estrelas.
Os malabarismos e as palmas vão-se sucedendo contrade atrás de contrade, bandeira atrás de bandeira.... e só por volta das 19h se começam a juntar cavalos e jockeys no local da partida. As pessoas levantam-se, mais despertas sem o calor sufocante. E depois de algumas falsas partidas... começa a corrida!
Há regras muito especiais... é o último cavalo que começa a correr... e eles correm sem estribos e sem sela. A multidão acotovela-se e move-se em bloco... eu sinto-me a asfixiar e os meus pés saem do chão... quando os cavalos se aproximam confunde-se o bater do coração com a ferocidade dos cascos no chão... toda a gente se atropela, grita com efervescência e estica a mão para tirar fotos ao acaso. É um delírio!
Mas um minuto e meio depois do início tudo cessa... E há um vencedor... Drago.
Agora é tempo de festejo... Por toda a cidade se festeja, uns mais que outros... vêm-se grupos de raparigas solteiras com cartazes à procura de noivo... as pessoas jantam na rua... o bairro vencedor percorre em comitiva a cidade agitando furiosamente as bandeiras e os estandartes do Dragão.
E nós acompanhamos... porque não?”



Para grande tristeza minha desta vez estivemos em Siena apenas 2 horas. Gostei de rever tudo mas apetecia-me sentar no chão inclinado da Piazza Il Campo e recostar-me a olhar para a torre. Tentar ouvir o pulsar da multidão, dos cascos dos cavalos... será que havia ainda algum restinho por ali?... Não foi possível e fiquei infelicíssima :-) ... mas é o preço que se paga quando se decide fazer este tipo de viagem organizada em que os minutos estão contados e não há volta a dar.

Ficou a certeza absoluta de um regresso. Há qualquer coisa nesta terra chamada Toscana... e há definitivamente qualquer coisa em Siena que faz o meu olho brilhar.... Parece que já tinha saudades dela mesmo antes de a conhecer.



mais Itália:

Roma Assis Toscana Pisa Firenze Padova Venezia Verona Milano

2 comentários:

Elitre disse...

Ciao, se ti va di dare un'occhiata al mio blog sul Palio...
http://ilpaliodisiena.splinder.com :-)

Elitre disse...

I'll translate that, just in case... Hi, I've just seen your post, if you're interested in Palio di Siena take a look at my blog with lots of 2005 pics and a link to see the last Palio movie (free). Ciao...
Elitre,
http://ilpaliodisiena.splinder.com