2 de março de 2012

Interregno religioso

A viagem de Varanasi para Sauraha é muito longa. Muitas pessoas quebram a viagem em Lumbini, no Nepal, a pouca distância da fronteira com a Índia. O que, diga-se de passagem, não nos teria ficado nada mal já que esta é uma “Shiva meets Budha” trip e já que Lumbini é um local de peregrinação por ser o sítio onde Budha nasceu.

Mas às vezes é preciso atalhar. E outras vezes é preciso pôr o frenesim religioso em pause.
Porque na realidade, apesar da relação com o divino ser uma das coisas que mais me fascinam nesta cultura e apesar de chegar a esta parte do Mundo vinda de Portugal, país do Sul da Europa maioritariamente católico, país de Fátima, e isso fazer com que entenda perfeitamente os meandros da devoção, o certo é que não estamos habituados a estes rituais diários, comoventes e praticamente medievais de adoração a um panteão tão alargado de deuses. O hinduísmo simplesmente não é contido, esterilizado ou sofrido. É uma religião com restos de comida a apodrecer nos altares, orgânica, decadente e visceral. E é assim todos os dias da semana. 
Tudo aquilo a que não estamos habituados.

Então ao sairmos da alçada de Shiva fazemos o nosso interregno religioso.
Mas nesta zona é impossível não continuarmos em contacto com algo superior... Pois ao nos aproximarmos do Chitwan National Park entramos nos domínios da Mãe Natureza, onde reinam os animais, a selva e o rio.

Chegamos a Sauraha ainda cedo mas já é noite cerrada pois a latitude não perdoa a quem viaja no  hemisfério Norte durante o mês de Dezembro.
Mas por outro lado, nesta altura do ano este é um local muito tranquilo, sempre com uma neblina enigmática a levantar-se do rio Rapti e os sons misteriosos e longínquos dos animais a pairar no ar.

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