22 de fevereiro de 2011

“Sou Palestiniano”

30-Outubro-2010

Chegamos a Amman 1 dia antes do previsto e estamos a 2 dias do nosso vôo de regresso a Portugal. Por isso decidimos “trocar” as ruínas de Jerash, o boiar no Mar Morto, as vistas do Mount Nebo e outros locais bíblicos, por uma incursão relâmpago à icónica Jerusalém. Sem plano nenhum. Literalmente nem um mapa da cidade tínhamos.
Amman está a 70 km de Jerusalém, mas contando com as passagens de “fronteira”, pensamos ter tempo para uma pitada da cidade indo num dia e voltando no outro, o dia do nosso vôo.

Notamos que a informação mais fidedigna que se encontra é através de sites na internet ou dos esporádicos viajantes com que nos cruzamos no hall das pensões por onde passamos. Na recepção limitam-se a dizer que se quisermos nos arranjam um taxi até à “fronteira”, mas a partir daí, simplesmente não há informação. Estamos por nossa conta e ninguém sabe dizer-nos o que vamos encontrar. Quanto tempo leva a passagem da fronteira? (de 2h a 10h!!) Se depois há autocarros até Jerusalém? Se é fácil apanhar um taxi? Quanto custa? Basicamente, se fazemos bem em ir ou se vamos perder tempo?...
Nada. Ninguém diz nada... parece assunto tabu.
Tudo bem. É normal, pensamos.
Sabemos que existe tensão nestas “fronteiras”...

Por isso de manhã apanhamos um taxi para a King Hussein Bridge.
E bem cedo, porque é sábado, dia sagrado para os judeus e a “fronteira” de Israel fecha a meio do dia.

O taxista é muito simpático, fala inglês e a primeira coisa que diz é:
“- Sou Palestiniano”.
Toda a gente sabe do conflito Israel/Palestina... Eu também.
Mas quando cheguei à “fronteira”, cheguei a sentir que não sabia nada sobre isto e ainda menos sobre tudo o resto.

Entre outras coisas e variadíssimos episódios, o simpático taxista palestiniano contou-nos como combateu na guerra dos 6 dias de 1967 contra Israel quando estes ocuparam militarmente a Cisjordânia (West Bank) e a Faixa de Gaza.
Contou-nos como fugiu depois da derrota e atravessou o Rio Jordão a nado... Contou-nos como chegou à Jordânia e foi preso como um terrorista.
Contou-nos também como desde então Israel demoliu mais de 20 mil casas de cidadãos não judeus da Cisjordânia.
E contou-nos dos quase 5 milhões de refugiados Palestinianos a quem é recusado pelo estado de Israel voltar às suas casas e a quem é negada a emissão de um passaporte nos países árabes vizinhos... São pessoas sem país, que não são donas das terras onde vivem, apenas têm permissão para morar lá, sem acesso a direitos básicos como cuidados médicos ou educação. Resumindo, são pessoas de segunda categoria...
Também nos contou da construção do muro de 700 km...

Notamos imenso desprezo pelos israelitas, como esperávamos. Mas também notamos desprezo pelos árabes. Esta é uma história muito mais complicada do que aquilo que podemos imaginar... principalmente para nós, os que mais são manipulados pelos media.
Porque os Palestinianos não são árabes. São pessoas que moram na Palestina.

Penso na agitação com que se vive os 20 e poucos anos, e nas pessoas que conheci nessa altura... nos ideais que tinham, típicos daquela idade, penso nas ideias românticas à Che Guevara, nos lenços quadriculados ao pescoço e nas t-shirts a gritar “free palestine”...
Mas que sabemos nós disso?

“- O meu país não é a Jordânia. Sou Palestiniano. O meu país foi invadido e desapareceu. Mas algum dia, tê-lo-emos de volta...”
São quase 5 milhões de pessoas que só pensam numa coisa: Revolução.
Pergunto. Que sabemos nós disso?



1 comentário:

fm disse...

gosto do que li,perguntas,interrogações e uma visão desapaixonada e aberta ás diversas e muito diferentes reaalidades que se vivem neste ponto muito sui generis do planeta que todos nós habitamos, repito-me,gostei do que li.